domingo, 2 de fevereiro de 2014

RASTROS DE LIBERDADE

Mas quando aquele homem chegou ao alto da encosta — como se tivesse enfim captado uma ilusão perseguida a vida inteira e tocado na sua própria embriaguez, subitamente capturado por um redemoinho de finíssima alegria — o ar se abria em vento turbilhonante e livre. E ele se achou em pleno alarido que era tão inapreensível como se este fosse o som do poente.

(A Maça no Escuro, Clarice Lispector)


































O SILÊNCIO

...mergulhou num silêncio total como meditação. Estava rodeado de pedras. O vento que soprava ardente transpassava-o como ao descampado. Oco e tranquilo, ele olhou a luz oca e tranquila. O mundo era tão grande que ele estava sentado. Por dentro tinha o vazio ressonante de uma catedral.


(A Maça no Escuro, Clarice Lispector)
























domingo, 26 de janeiro de 2014

O VERDE DO BREJO PARAIBANO

Consciência Cósmica
João Guimarães Rosa

Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do redemoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado... 

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...